quarta-feira, 13 de julho de 2011

Lição 07 - A Estrutura Literária do Novo Testamento





ESTRUTURA LITERÁRIA  DO N.T.

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO consiste dos livros aceitos pela Igreja primitiva, como Escrituras divinamente inspiradas. O termo cânon, à princípio significava vara de medir, mas terminou adquirindo o sentido metafórico de padrão. No que tange ao Novo Testamento, refere-se àqueles livros aceitos pela Igreja como o padrão autoritativo de crença e conduta.

Como os cristãos, à princípio, não contavam com quaisquer dos livros que figuram em nosso Novo Testamento,  eles dependiam do Antigo Testamento, de uma tradição oral acerca dos ensinamentos, da obra remidora de Jesus e, de revelações diretas da parte de Deus, por meio dos profetas cristãos. Porém, algumas razões de ordem prática tornaram necessário que a Igreja desenvolvesse a relação de livros que deveriam compor o Novo Testamento. Isso por que, heréticos como [1]Márcion estavam formando seu próprio cânon das Escrituras e estavam  levando o povo ao erro.

Marcion propunha a existência de dois deuses, um mal, o do Velho Testamento, para criar e, um bom para redimir. Quando Marcion formou seu Cânon do Novo Testamento, a Igreja se viu forçada como auto-defesa a se preocupar  com o problema de definir quais livros seriam considerados canônicos e autoritativos para a fé e para a vida. Um pequeno credo para provar a ortodoxia foi logo elaborado, afim de atender a uma necessidade prática. Foi nesse período, que o prestígio do bispo foi aumentado, devido à forte ênfase sobre seu ofício, como centro da unidade contra a heresia. Em troca, isto provocou o posterior desenvolvimento da proeminência do bispo romano.

Um outro motivo que levou a Igreja à providenciar a formação do Cânon, é que os cristãos, uma vez que estavam sendo perseguidos, não estavam dispostos a arriscar suas vidas por um livro, se não estivessem certos de que ele integrava o Cânon das Escrituras. Como os apóstolos estavam saindo de cena, havia  a necessidade de alguns registros, que seriam reconhecidos como autorizados e dignos de adoração.

O maior teste  do direito de um livro estar no Cânon era se ele tinha os sinais da apostolicidade ou se era escrito por um apóstolo ou por alguém ligado intimamente  aos apóstolos, como Marcos, o autor do segundo Evangelho, que, provavelmente, contou com a ajuda de Pedro. A eficácia do livro na edificação quando lido publicamente, e sua concordância com a regra de conduta e fé, serviam também de testes. Na análise final, o que contava para a decisão sobre que livros deveriam ser considerados canônicos e dignos de serem incluídos no Novo Testamento era a verificação histórica de autoria ou influência apostólica ou a consciência universal da Igreja dirigida pelo Espírito Santo: "É dinâmico?  - Veio acompanhado do poder divino de transformação de vidas?" Além disso, os pais da igreja tinham a prática  de "em caso de dúvida: "jogue fora". Isso acentua a validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos.

É de se ressaltar, que o desenvolvimento do Cânon foi um processo demorado, basicamente encerrado em 175 DC, exceto para o caso de uns poucos livros. Tiago, II Pedro, II e III João, Judas, Hebreus e Apocalipse estavam entre os livros, cujo lugar no Cânon ainda era discutido. A demora da inclusão destes livros deveu-se, sobretudo, à incerteza de sua autoria. Porém, Atanásio, bispo de Alexandria, em sua carta em 367 DC à Igreja sob sua jurisdição, relacionou os mesmos 27 livros do Novo Testamento atual. Concílios como o de Calcedônia em 451, apenas aprovaram  e deram uma expressão uniforme, àquilo que já era um fato, geralmente, aceito pela Igreja. A demora com que a Igreja aceitou Hebreus e Apocalipse como canônicos, indica-nos o cuidado e a atenção que ela dispensou a este problema.

VI - CARACTERÍSTICAS  DOS  LIVROS  DO  NT

1. Os Evangelhos Sinópticos – Sinóptico é uma palavra que significa  “visto do mesmo ângulo”, “observado do mesmo ponto de vista”  ou  “visto sob a mesma ótica”. São eles: Mateus, Marcos e Lucas.  Eles mostram Jesus, que nasceu de Maria, viveu como homem, foi batizado no rio Jordão por João Batista, fez milagres, ensinou, morreu na cruz, ressuscitou e, ordenou que os discípulos anunciassem o Evangelho a todos os povos. Contudo, o estudioso da vida de Jesus, de imediato tem de se defrontar com o "problema sinóptico": Porque os três primeiros  evangelhos (ou sinópticos) são tão parecidos entre si?

O problema sinóptico  entra em foco quando a seguinte estatística é observada: Cerca 93-95% do Evangelho de Marcos é reproduzido em Mateus e Lucas. Dos 661 versículos contidos em Marcos, todos, exceto cerca de 30, são encontrados nos outros dois sinópticos. A substância de 606 versículos pode ser encontrada em Mateus (correspondendo a 500 por causa de diferente disposição do conteúdo). Lucas reproduz cerca de 320 versículos de Marcos, incluindo 24 que Mateus não usou. Isso significa que dos 661 versículos contidos em Marcos, somente 30 não aparecem nos outros  dois .  Isso significa que 93-95% de Marcos é encontrado ou em Mateus ou em Lucas, mas, somente 58% de Mateus e 41% de Lucas é encontrado em Marcos (e, apenas 8% de João é comum a Marcos).

As concordâncias e coincidências são bem impressivas no Novo Testamento grego. Versículos idênticos nos três Evangelhos e, idênticos em dois, são imediatamente evidentes. A concordância, em um grande número de casos, é encontrada no vocabulário e na ordem de palavras. Em outros exemplos, são usados sinônimos, e é observada a ordem invertida. Também se observa que a ordem geral da narrativa de eventos é seguida.  Quando um dos outros dois Evangelhos diverge da ordem de Marcos, o outro é fiel a ele.  Mateus e Lucas dificilmente concordam juntos em contraposição a Marcos.

Este é o problema sinóptico. É a tarefa do estudante do Novo Testamento é tentar explicar as semelhanças e divergências nos três Evangelhos. "Porque eles têm tantas coisas em comum, e como explicar as diferenças?".

É difícil para muitos, aceitar a idéia de que os escritores dos Evangelhos poderiam ter usado histórias, tanto escritas quanto orais, acerca da vida de Cristo. Sua concepção dos Evangelhos é que o Espírito Santo deu o material a cada um dos escritores de maneira mecânica;  ou seja,  os autores dos Evangelhos eram simplesmente penas nas mãos do Espírito Santo. Contudo, o prefácio do Evangelho de Lucas (1:1-4), afirma claramente que ele havia investigado muito  inteiramente o material a ser escrito. Isso indica que Lucas teve acesso a fonte tanto orais quanto escritas. Deve ser presumido, então,  que os escritores dos Evangelhos também usaram "fontes" para sua obra.

[Sugerir a leitura do capítulo 3 (pág. 55 - 71 - a partir do título: Crítica da fonte) do livro: "Introdução ao Estudo do  Novo Testamento". Autor: Broadus David Hale. 3ª edição - editora: Juerp. 1989. RJ].

2. O Evangelho Segundo João – não pode ser contado entre os sinópticos, porque João quis mostrar Jesus de outro ângulo. Ele fada de Deus, Criador do mundo, que se fez carne e habitou entre nós. Fala dos milagres e dos ensinos de Jesus, mas para provar que Jesus é Deus.

Foi João quem registrou a polêmica de Jesus como os fariseus, em que Jesus disse: “Eu sou o pão da vida”, Jo.6.35. “Porque Eu desci do céu” (v.38); “Eu sou o pão que desceu do céu” (v.41) etc.  Só João registrou palavras de Jesus, como: “Eu e pai somos um” ( Jo.10.30) e, “quem me vê a Mim vêm o Pai” (Jo.14.9) e  “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em Mim, e eu em ti... “ (Jo.17.21).  Finalmente, o que encontramos em Mateus está em Marcos e Lucas, mas não está, de modo geral, em João.  E  nem tudo o que está em João encontramos nos três sinópticos.

Evidentemente, João era da opinião que os evangelistas sinópticos já haviam apresentado informações suficientes sobre o ministério na Galiléia e sobre o Reino de Deus; por esta razão, sua ênfase recaiu sobre a Divindade de Jesus.

3.                 O  Livro de Atos – Fala da fundação da Igreja, que aconteceu no dia do Pentecoste; do viver diário dos cristão primitivos; de suas lutas; perseguições e vitórias; e, da  expansão do Evangelho através das obras missionárias iniciadas com Paulo e Barnabé.

4.                 As Epístolas – Ou Cartas são interpretações dos ensinos de Jesus e o estabelecimento da doutrina cristã. Elas foram escritas para atender necessidades da época, e  não,  com o objetivo de compor um volume, como a Bíblia que temos hoje. Contudo, Deus estava coordenando tudo, visando o estabelecimento da doutrina cristã para que, todos os povos em todas as épocas, pudessem conhecer a Verdade do Evangelho de Cristo.  Essas epístolas são:
à Doutrinárias – Especialmente Romanos, Gálatas e Hebreus; embora as outras também tratem do assunto.
à Um manual de vida cristã – 1ª  e 2ª Coríntios, 1ª  e  2ª Timóteo, Tito e 1ª, 2ª  e  3ª João.
à Pessoais – Efésios, Colossenses, Filipenses, 1ª  e  2ª Tessalonicenses, Tiago, 1ª e  2ª Pedro e Judas.


5. Livro de Profecia: Apocalipse
O livro de Apocalipse de João é a previsão dos últimos acontecimentos, tanto com relação aos justos quanto aos ímpios.  Trata de consumação dos tempos, com a obra de Deus  chegando ao seu desfecho.


[1] Marcion deixou sua cidade natal, Ponto, em 138 DC e foi para Roma, onde se tornou influente na Igreja Romana. Por entender que o Judaísmo era mau, rejeitou a Bíblia hebraica e o Iavé nela representado. Ele formou seu próprio cânon, que incluía o Evangelho de Lucas, os Atos e dez Cartas identificadas com o nome de Paulo. Embora seus negócios  tenham feito dele rico o bastante para prestar uma substancial ajuda à Igreja Romana,  ele foi expulso por causa de suas idéias. Ele fundou, então, sua própria igreja.

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